viernes, 15 de julio de 2016

CRIOLLO,ESTOU COM SAUDADE DE VOÇÊ

ASI EMPEZO MI AMISTAD CON JOEL RUFINO HACE 60 AÑOS



La sábana amarilla
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“Mamá, este es mi amigo Joel”. A senhor magra combinava olhos inteligentes com um sorriso zonzoroso, mantido todo o tempo em que estive em sua casa. Ao jantar, conheci o marido: alto, espaçoso, advogado endinheirado, sócio do River Plate; incapaz de levar desaforo pra casa, contava entre suas façanhas ter apresentado a cidade a Waldir de Souza, o Didi, campeão do mundo em 58. Antonio Moles mal me apertou a mão abriu seu estoque de piadas obscenas, tão velhas que já não ruborizavam a mulher, Titi. Não observei que ela tinha o mesmo apelido da personagem de A relíquia, que considerava obscena a natureza por ter criado dois sexos ao invés de um.
Eu estava fascinado pelas garrafas verdes de sifão. Por que a chamavam de soda? Era soda, de verdade ou água comum convertida pelo artefato? Comi bem, vencendo a cerimônia. Na sala havia uma cristaleira, um janelão para a rua, uns retratos ovais de avós – o homem, sósia do Barão do Rio Branco, a mulher de leque no colo, cara de Carlota Joaquina. Na hora do licor e do café, Antonio Moles abriu a janela para fumar charuto, talvez oferecesse ao filho. Fazia o calor úmido que torna o verão portenho irmão do de New Orleans, tão diferente do de Dakar, que vem do deserto.
Vindo de carro de Santiago, eu estava cansado. Titi se antecipou ao filho, me indicou o quarto de hóspedes, o pequeno banheiro, talvez tenha aberto um instante a janela que dava para os fundos. “Fique à vontade”. Seu ar sempre sonso – ela ensinava história da arte – funcionava como controlador de situações, como a do marido obsceno.
Vi que a cama não tinha lençol. Meu amigo me levou ao seu quarto, mostrou livros, conversamos ninharias, me prometeu passeios. Titi reapareceu: “Su pieza está arreglada. Pase quando quiera”. Então, quando me recolhi, vi que a cama tinha lençol amarelo.
Conheci Alfredo Moles em Santiago de Chile, talvez em julho, certamente em 1964.
Vindo do exílio triste na Bolívia, passei por Mendoza, Argentina, antes de chegar a Santiago. Ali conheci uma louça esmaltada parecida com a que tinha meu avô como única riqueza – ele fora lixeiro no Rio de 1940 e duvido que a tenha comprado. Em Santiago o rádio berrava sem parar uma canção ao estilo Rita Pavone, eu imaginava uma adolescente de soquete, gorro, pintada, girando a cabecinha como liquidificador Walita. “Qué va a cantar?”, “Estelita, pues”.
No Estádio Nacional, hoje Victor Jara, jogavam um quadrangular, Santos, River, Universidad Católica e Seleção Tcheca. No fim de uma partida, um grupo de exilados desceu ao vestiário do time brasileiro. Anísio Teixeira olhou Pelé, Lima, Durval no banho e disse uma frase de pensador: “Vocês são helenos e não sabem”.
Se Pelé não tivesse jogado, o melhor do torneio seria Masopust, levemente atarracado como Maradona, conduzindo a bola da defesa ao ataque, como Sívori ou Zizinho. Na fila de ingresso para River x Santos, troquei umas palavras com um rapaz de terno de linho branco, sem gravata. Dias depois o encontrei numa discussão de exilados. Anos depois, no Doi-Codi, em São Paulo, esperaria ansiosamente que Alfredo Moles não chegasse, ou melhor, que não o trouxessem.
Quando o reencontrei, depois de 20 anos, me contou que a mãe não me dera lençóis brancos por uma razão estética

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